Anos 90

Às vezes começamos do jeito errado, mas no final o otimismo permite e nos ajuda a continuar a busca pelo certo, sempre com uma gota a mais para benefício próprio, é claro, sorrindo enquanto outros choram. O ideal seria pensar em todos de forma plana, igual, e não como em uma balança. A verdade é que isso não acontece. Podem haver casos, claro, as exceções ainda existem, e no mundo real isso é apenas uma mera coincidência.

O ideal é começar pelo começo, o princípio na maioria das vezes pode ser incerto, e isso acaba se tornando um enigma. Mas reforçando o pensamento, buscando lembranças, consigo buscar sentidos. Acredito que tenha sido pelos meus quinze anos. A era das flores adolescentes, hormônios, lágrimas, angústias, sorrisos, olhares, onde tudo é um ápice de emoções, de descobertas. Enfim, no final das contas existe uma senhora culpada e causadora de todos esses transtornos juvenis, e essa tinha um nome fascinante e atraente como a própria, singular e original, eu particularmente adorava, gostava, achava perfeito para seu rosto e seu humor, que acompanhava lindos cabelos loiros e sutilmente lisos, definitivamente atraente, bastante atraente. Poderia pensar que apenas a achava tão perfeita, mas não, de jeito nenhum, ela sempre havia sido muito cobiçada, por olhares que cruzavam seus olhos nos corredores estreitos da escola, na sala de aula, onde eu mesmo me pegava fazendo isso, vivia a observar seu nariz pequeno, sua boca rosada, queixo fino, bochechas levemente avermelhadas pelo fato de viver sorrindo, dentes à mostra, brancos. Suas bochechas tinham aquele furinho, por assim dizer, charmoso, definitivamente era um charme, e o melhor de tudo, lindos e sublimes olhos verdes, grandes, vivos, sempre atentos. Retribuía olhares a quem conquistasse sua atenção, permanecendo com este vidrado até a desistência daquele que teimava em continuar olhando, gostava de jogar, sabia o poder que tinha e sabia usá-lo. O melhor disso é que a gente tinha uma amizade, tinha algo até mais que isso, não sei o real motivo de não ter dado em nada. Meus estranhos hábitos; sempre tímido e demonstrando que estaria ali na hora em que ela precisasse, acredito que foram colaboradores, talvez a mesma idade atrapalhasse também; mulheres são sempre mais velhas psicologicamente que os homens nessa fase, isso é fato. Talvez pensasse que eu fosse infantil ou apenas um amigo e nada além disso, sendo que também existe aquela “magia” que faz a gente imaginar que a adolescência nunca vai acabar, que sempre vão existir amores, olhares, falta de preocupação e falta de tomar iniciativas. Dentre todos esses episódios, o que mais me interessa é que nós nunca tivemos nada, nem um romance ou quem me dera; um simples e inocente beijo. Apenas uma coisa suprima todo o resto, que a meu ver era especial e só se consegue sentir nessa fase; a sensação única e singular de “gostar de alguém”, sentimento inocente e novo que só vem uma vez. Não há cobrança ou ciúmes, apenas vontade de estarmos perto, isso supre o desejo de algo mais.

A lembrança é muito agradável, nos ajuda a recordar não só de momentos ou pessoas, mas de sentimentos e modos que não se sente quando se está consolidado a um novo meio de vida.

A verdade é uma só; essa foi à maneira que deixei um dos meus mais inocentes amores ir embora, sem malícia ou pretensão, apenas porque tinha que ser assim. Junto dela eu deixei os meus videogames, meus amigos de sala de aula, meu quarto, meus CDs, minha bicicleta, dentre tantas outras coisas que o tempo absorve. Não é evidente o que devemos de fato estar fazendo em relação a isso, pois quando nos damos conta, só estamos com saudade, e mais nada. No geral, o passado no fundo deixa as pessoas mais felizes. Não é só dela que sinto falta, ou do primeiro olhar que trocamos meio aos corredores da escola. É de um todo, de uma época, que no meu pensamento foi exclusiva.

A nostalgia é o sentimento mais agradável que se consegue sentir; deixa uma felicidade frágil e levanta um sorriso no rosto, casando pelo tempo. Confesso que se eu pudesse, daria essa infância para meus filhos.

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