Entre Flores e Segredos

Capítulo 1: “A Estufa da Senhora Leocádia”

A velha senhora Leocádia passava suas manhãs na estufa, o coração pulsando em sincronia com o verde exuberante que a cercava. Ali, em meio ao aroma adocicado das flores em flor, ela encontrava refúgio do mundo que parecia tão cruel lá fora.

Seus dedos enrugados deslizavam suavemente pelas folhas das Nepenthes, cada toque uma carícia amorosa às suas protegidas. As plantas, suas companheiras silenciosas, pareciam compreender as palavras não ditas de Leocádia, oferecendo consolo nas horas de tormenta.

As orquídeas pendiam em cascata, enfeitando os cantos da estufa com uma profusão de cores e formas, enquanto as samambaias se erguiam majestosas, criando um delicado véu de folhagem que dançava com a brisa suave. Dente de leão, com sua simplicidade e resistência, erguia-se ao lado da imponente flor do deserto, uma explosão de pétalas em tons de rosa e carmesim.

No entanto, era a Nepenthes que verdadeiramente roubava a cena, suas folhas enormes e cilíndricas dominando o espaço. De cada uma delas pendia uma armadilha mortal, pronta para capturar presas incautas. Era um espetáculo impressionante, a coexistência pacífica de beleza e perigo.

Enquanto o sol atingia o seu zênite, Leocádia emergia da estufa, os ombros curvados sob o peso do tempo. Nas ruas tranquilas do antigo bairro, ela se esforçava para manter a aparência de uma senhora gentil e serena. Cumprimentava os vizinhos com sorrisos calorosos e palavras amáveis, mas no fundo de sua mente, as queixas sussurravam como um murmúrio constante.

“Eles não entendem”, pensava Leocádia, olhando ao redor, observando os rostos passarem. “Não sabem o que é carregar o fardo do passado, o peso das escolhas que não tive. Culpa deles, culpa do tempo.”

No entanto, por trás da fachada de tranquilidade, Leocádia guardava um turbilhão de emoções. A solidão, muitas vezes, era sua única companheira verdadeira. Às vezes, ela imaginava que as plantas a entendiam melhor do que qualquer pessoa. Elas não julgavam, apenas acolhiam.

À medida que o crepúsculo tingia o céu de tons dourados, Leocádia retornava à sua estufa, onde o mundo parecia desvanecer. Ali, entre as sombras alongadas das plantas, ela encontrava consolo para a alma cansada.

Na penumbra, Leocádia sussurrava para suas plantas, compartilhando segredos que nunca ousara revelar ao mundo. “Vocês são minha fortaleza, minhas confidentes. Com vocês, posso ser eu mesma, sem máscaras, sem julgamentos.”

E assim, a senhora Leocádia encontrava seu equilíbrio frágil entre a realidade que enfrentava e o refúgio que a estufa lhe proporcionava. Um santuário de vida em meio à sua jornada solitária, onde as queixas podiam ecoar livremente, sem julgamentos. Ali, Leocádia encontrava a paz que buscava, pelo menos por um breve momento, antes de enfrentar o mundo novamente, sempre com a determinação de uma senhora gentil e serena, ocultando suas dores sob a fachada da calma e paciência.

#Continua

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