Pensamentos do Vácuo
Atravessando o nada e compondo o todo
  • Twitter
  • Google+
  • Facebook
RSS
  • Categorias
    • Conto
    • Crônica
    • Ensaio
    • Ficção
    • Filosofia
    • Hot
    • Inspiração
    • Narrativa
    • Poema
    • Prosa Poética
    • Psicologico
    • Reflexão
    • Romance
hot

Quente

Em uma noite quente e tendenciosa, dois corpos se envolvem e, em meio a carinhos e apertos, ela pergunta:

  • Você trouxe?
  • Calma, não fala nada! Ela então se cala e fecha os olhos, retribuindo os beijos de quem a quer naquele momento. Passados poucos segundos, ela novamente questiona:
  • Você trouxe ou não?
  • Nossa, você vai ficar uma fera comigo, linda. – Diz o moço, já sem esperanças de continuar aquele ritual já quase consumado.
  • Não acredito que você não trouxe! Nossa, dá pra ver o quanto você me quer. Eu não faço sem e já deixo avisado.
  • Sabia que você iria dizer isso. – Desanimado e sem esperanças de continuar, ele desvia o olhar, enquanto ela o olha desanimada, virando-se e deixando seu pescoço à mostra e seu corpo vulnerável.

Ele simplesmente acomoda-se por detrás daquela beldade, morde sua orelha, aperta suas coxas e atiça seus estímulos mais sacanas. Ela em total desconforto por saber que mais um pouco daquilo a cegaria, com ou sem o que o rapaz ficou de trazer, iria acontecer e ela já não podia fazer nada para evitar tanta vontade e voracidade que exalava de ambos os corpos.

A intensidade do momento é inegável, mas ela se pergunta se vale a pena prosseguir, se aquilo é verdadeiramente o que deseja. Enquanto as emoções fluem desenfreadas, ela se vê envolta em dúvidas, questionando se a paixão momentânea não a levará para caminhos incertos e repletos de consequências.

Nessa noite quente e cheia de desejos, eles se deparam com a encruzilhada da paixão e do autocontrole. Os instintos clamam por mais, mas a razão sussurra advertências cautelosas. Em meio a esse turbilhão de sensações, eles precisam tomar uma decisão: prosseguir com a paixão efêmera e intensa ou recuar em busca de uma conexão mais profunda e significativa.

O destino desses dois corações pulsantes agora está em suas mãos, enquanto a noite quente e tendenciosa testemunha o desenrolar dessa história. O que virá a seguir, somente o tempo e suas escolhas revelarão.

0

2 anos ago Hot • Tags: Conto erotico, Sensual

Desde de Criança!

Desde de Criança!

Em dias com dor nas entrelinhas da cabeça, Não se sabe em que fixar os olhos… não se presta atenção!

Se leva apenas pela rotina que carrega na mochila desde os tempos de escola… Acordar é uma Lei, que é cumprida por aqueles que não a querem, mas cumprem. O Mundo não espera, não tem parada. Existe uma grande parte que faz, e um dia, o dia vai escurecer, sem te esperar, não pelo fato de você não gostar, é que é Lei mesmo.

Existem sonhos que por toda nossa idade, nos seguem nas entrelinhas da cabeça, acham-se no direito de nos levar a sonhar com amores futuros e melhores. E essa Lei diz que temos que acordar cedo, pular da cama o quanto antes, somente pelo fato de que; quanto antes nós acordarmos, mais cedo vamos realizar nossos sonhos.

Em dias de rotina, segue-se sempre uma mesma soma, uma mesma ordem. Hora para acordar, hora para falar, e hora para comer, é hora de ver TV, e hora de se beijar. Enxergamos mais, mais oportunidades. Estamos em maior número, trabalhamos de dia e sonhamos à noite, e assim se deixa passar mais uma rotina. É Lei, e Lei é Lei.

Sorte daquele que se joga no vento, arrisca e sobrevive em meio a tanta diferença de ambiente. Mas ainda assim sofre um pouquinho. É natural, se é Lei, e a Lei diz que é natural ser organizado. Estipulamos horários e feriados, para gerar mais possibilidades, e quem sabe assim, eu consiga ver você na feira de domingo. Desde os tempos de menino, ouvia meu pai dizer que; “na minha época era melhor”, e provavelmente, com toda certeza da minha existência, eu vou dizer isso para meus filhos. Não sei por que o passado parece bem melhor que o presente.

Em dias com dor de cabeça nas entrelinhas do tempo, Relembro que tenho sonhos desde criança, e ainda assim, não acordei.

2

2 anos ago Prosa Poética • Tags: cabeça, Criança, entrelinhas, Filosofia, Lirismo, Metáforas, sentimentos

Depois de Tudo

Depois de Tudo

Sem mais a acrescentar e a adquirir,
O Homem acaba assim, como quis;
Meio ao mundo e no final de tudo,
Pensativo, incompleto e insatisfeito.

Logo faz o que sempre fez, e por vez,
Acaba por acabar sem tentar, sem arriscar.
A dor ainda é boa, divina, machuca e faz ferida.

O Homem acaba sem graça, sofrido e incompreendido;
Arruma paixões mentirosas, esquece quem foi.
Natural ordem das coisas, no final, são todos iguais,
Um resto sem muito uso, consumista e ignorante.

Por mais que reflita, o presente lhe mostra a imperfeição de suas atitudes, o caminho traçado.
O Homem acaba, mas ainda vivo e como uma árvore;
Parado, imóvel, pensativo.
Perplexo por reconhecer onde está, familiarizado.

Triste por saber que tudo foi feito por ele mesmo…
Conquistou o que menos apreciava;
O holocausto dos pensamentos, a morte da vida
Por assim dizer… a solidão!

0

2 anos ago Poema, Reflexão • Tags: homem, poema, vazio existencial, vida

Durante Uma Festa

Durante Uma Festa

Era entre 01:30hs e 02:00hs da madrugada; aquela festa estava me entediando. Era sempre a mesma coisa: aquelas pessoas forçando sorrisos, se cumprimentando sem ao menos se conhecerem. Realmente, eu preferia estar em casa assistindo a um jornal da noite, ou até mesmo um bom filme, ao invés de estar aqui, nesse lugar. Estava me sentindo meio deslocado. É uma dessas festas de alta classe, gente puxando o saco, e no final das contas, eu tinha que estar ali; eu era um desses puxa sacos, e gostaria muito de alcançar a diretoria da empresa. Não via outro modo, além é claro de trabalhar muito, era necessário frequentar ambientes sociais, se destacar meio a tantos outros com interesses parecidos, para não dizer iguais aos meus.

Ao olhar para vários conhecidos, pessoas familiares, pude perceber a presença de uma mulher linda, sozinha, de cabelos escuros, pele semi-clara, olhar penetrante, um batom quase que da cor da boca, muito atraente. Ela sabia que eu a olhava diretamente, mas não se incomodou; retribuiu o olhar de forma sutil e feminina, ao mesmo tempo em que direcionava seus olhos em minha direção, contornava a boca da taça com um dos dedos e sorria de lado sem mostrar os dentes, em um ritual que durou poucos segundos, até ela começar a caminhar em minha direção levando a taça que aparentemente estava com champanhe até a boca e continuando até chegar ao meu lado, dando a entender que gostaria de conversar.

  • Que tal a gente dar um passeio lá fora e nos conhecermos melhor! – ela disse sem rodeios.

Eu estava meio a uma guerra pessoal dentro de mim, com álcool na cabeça e sensações em conflito. Foi muito rápido e provavelmente um jogo de interesses; afinal, eu não era ninguém na festa, apenas um funcionário que acompanhava seus “amigos de trabalho” em um evento social, a minha presença não era nada de mais. Ela simplesmente sorriu me olhando nos olhos, certa de que eu iria aceitar seu convite; claro que não recusei. Não me deparo com situações iguais a esta todos os dias, eu tinha que acompanhar aquela mulher.

Fomos até a varanda do lugar, que tinha uma bela vista da entrada principal, com aquele portão grande e alto, árvores bem cuidadas contornando a via de acesso até a mansão, um gramado em volta e até uma fonte que ficava em frente à entrada principal, alguns carros de luxo estacionados ao lado e ao redor da via de acesso. O lugar não deixava o bom gosto a desejar, fazia jus às pessoas que ali estavam.

Ela ficou encostada no parapeito com um dos cotovelos, enquanto a outra mão segurava aquela taça de forma delicada e experiente. Eu fui o primeiro a falar, perguntando seu nome, claro.

  • Eu prefiro conhecer as pessoas primeiro, para depois saber se são agradáveis o bastante para saberem meu nome – disse assim que acabei de fazer a pergunta.
  • Pois qual seria o motivo de tanto mistério? – perguntei.
  • Nada com a sua pessoa, apenas me sinto melhor se for assim, tudo bem? – Ela disse isso de forma simpática e com o tom de voz sutil que nem aparentou esnobe, pelo fato de estar ali naquele ambiente. Eu confesso que logo imaginei a filha de algum dono de alguma multinacional, sem sal e sem açúcar, portadora apenas de uma beleza atrativa, nada mais.

Eu fiquei sem muita opção, pois estava em uma situação difícil, sozinho com aquela garota, sem assunto e sem intimidade o suficiente para quebrar o gelo. Olhei para o relógio, 03:00hs, a festa não estava mais tão animada assim, algumas pessoas já haviam ido embora e começava a aparecer os que tinham bebido demais, falando e rindo alto, com as gravatas afrouxadas e os copos sempre cheios.

  • Você não é muito fã de festas assim, estou certa? – perguntou ela.
  • Na verdade não, venho porque preciso, sabe. – a conversa começava a fluir e nós perdemos alguns momentos nos conhecendo, dialogando. Eu não podia entender o interesse dela em mim. Eu não era rico, não tinha influência e nem status. Fiquei em conflito interno, com o pensamento no real motivo daquela linda garota se interessar em minha pessoa. Mas no auge da conversa, analisando a situação, achei melhor aproveitar, deixar acontecer e passar a pensar menos e fazer mais.
  • Hoje a noite está linda, você não acha? – comentei.
  • Tem razão, a noite está perfeita – ela apoiada no parapeito olhando para o alto continuou.
  • Você sempre vem a estas festas? – perguntei.
  • Sim, sempre que posso!
  • Estranho, eu também tenho o costume de estar sempre presente, mas nunca te vi – completei.
  • Você é muito distraído – ela disse me olhando e colocando o cabelo atrás das orelhas – Eu sempre vejo você, cumprimentando pessoas, bebendo seu Martini e olhando no relógio a cada meia hora.
  • Verdade!? – Eu disse totalmente espantado. Logo eu, detalhista e observador, não tinha reparado tamanha beleza me observando, se prestando a me analisar e tomar a liberdade de vir até mim, com interesses que só Deus sabe. Realmente, tinha sido o ponto alto da noite e não ia ser superado fácil.
  • Você sempre esteve preocupado em agradar os outros, em esperar o tempo passar para poder ir embora, que não se prestou a alguns detalhes. – ela me surpreendia a cada palavra proferida, era difícil imaginar aquela mulher, bebendo aquele champanhe e se dando ao capricho de estar me observando.

Ela deixou sua taça em cima do parapeito, me olhou, deu um sorriso, e chegou bem perto. Um pouco mais baixa que eu, mas muito pouco devido ao salto alto. Dessa vez foi até meu ouvido e disse baixinho.

  • Por que você não me beija?

Eu já não sabia o que fazer, estava meio a um bombardeio de situações e pensamentos que por fim não me ajudaram em nada, era surpreendido a todo instante. Ela então direcionou seu olhar para meus lábios e fez o que eu queria ter feito assim que a vi. Me beijou, de forma romântica e sensual, um beijo memorável acompanhado de um perfume suave, uma pele macia, uma verdadeira conquistadora. Eu com as mãos na sua cintura, pude sentir sua respiração mais forte. Assim que decidiu parar, abaixou a cabeça e foi até sua taça de champanhe que estava vazia.

  • Vou buscar mais champanhe, você quer alguma coisa?
  • Não, obrigado. Posso esperar você aqui? – perguntei.

Ela não disse nada, só deu um sorriso, pegou a taça e foi em direção à festa que já não estava tão cheia assim. Enquanto eu fiquei ali parado, pensando no rumo que as coisas tomariam; no final das contas, aquela festa aparentemente chata e sem graça havia virado uma das melhores que já fui.

Olhei no relógio e já havia se passado um bom tempo desde que ela entrou para buscar sua bebida. Olhei para o salão, pouquíssimas pessoas e garçons já não estavam servindo. Procurei no salão com os olhos, não estava lá. Eu devia ter adivinhado, ela foi embora na mesma hora em que disse que buscaria o tal do champanhe.

Para mim, não restava muita opção, não sabia o nome dela, ou qualquer outra coisa que pudesse me levar até ela. Achei melhor ir para casa, assistir o jornal da noite.

0

2 anos ago Conto, Romance • Tags: Beijo, conto, Mulher misteriosa, Romance, Texto romantico

nos como uma onda

Nós como onda

Quem já viu o filme “A onda”? Onde uma escola coloca seus alunos uns contra os outros em cima de uma única base. Criar um critério ou querer mostrar que a ganância alemã tinha seus princípios, morais, sociais e até naturais. Mostrar uma verdade que tecnicamente é impossível de ser explicada não é tarefa fácil; sempre há de compor dois lados e até quando não provarem o contrário, ela ainda será a melhor forma de esclarecer qualquer situação que seja.

A onda que nos move ou que move o planeta, e por aí vai, ainda é desconhecida, ainda é um enigma. Buscar uma razão, um deus ou uma fórmula matemática para se explicar cada passo e cada ângulo é necessário; nos faz vivo e em busca de um nível mais alto. Se alimentar e prosseguir são deveres de praticamente todo ser vivo. De forma matemática, poderíamos entender com um simples cálculo somando 1 + 0 que será igual a 1, assim como 0 + 1 será igual a 0. Um é pelo outro e o outro por ele. Religiosamente poderíamos dizer para você, “…amar o teu próximo como a ti mesmo…”; podemos entender ou imaginar uma prática balança, que estabiliza as relações e controla os ânimos, estreita as paredes do nosso próprio ego; que quanto mais nivelado, melhor e mais fácil a gente se encontra.

Imagino que quando se pensa demais para um lado, o indivíduo comete erros de percurso e atrasos que atrapalham a ele mesmo. Pressa demais causa acidentes, perda de tempo e um retrocesso particular. Se jogarmos o peso para o outro lado, vemos o contrário, afinal, a lentidão não é nenhum adjetivo de que se possa orgulhar. Quando se mantém o controle, está a navegar por ondas que atravessam mares e turbulências. Não se deixem enganar pela ideia de “deixar acontecer naturalmente” ou de “deixa a vida me levar e a vida leva eu”. Nossa balança apenas se mantém nivelada com ondas que conseguimos suportar. Encare isso como quiser; trabalho, fé ou seu time do coração. Eu prefiro encarar como pensamento, raciocínio e até lógica, que para mim soa como trabalho ardoroso e exaustivo, longo e pertinente para muitos. Afinal, tudo que possui vida se move, então trabalhemos para suportar as adversidades que constroem muros que separam vizinhos e nações.

Finalizando e deixando claro que não cheguei a lugar nenhum, digo que é tudo uma questão de ponto de vista e referência. Suas dores e problemas são singulares, somente a sua pessoa, como já esclarecia o pequeno príncipe, “… tu és responsável por aquilo que cativas…”. Navegar por ondas em pranchas individuais sem atrapalhar outros navegantes significa lidar com situações de risco que podem ficar mais fáceis se tivermos vizinhos que também estão atentos, não só em preservação da própria vida, mas em sintonia com quem está ao lado, sempre atentos para pequenos deslizes que possam vir a cometer no caminho. Respeitar ainda é para poucos e aguentar críticas para muito menos. Cada um tem sua razão concreta e quase impenetrável, igual a um filme de bang-bang, fim de novela com vilão feliz e telejornal acabando com os gols da rodada.

Matematicamente calculando, religiosamente tendo fé e dentro da Lei, digo que a competição é necessária para que haja evolução, e a tal da evolução necessita de competição. As ondas só se movem por força de outras e sozinho nem o padre faz missa.

0

2 anos ago Ensaio • Tags: Ensaio, onda, reflexão, texto

conbrador

O Cobrador

Ele passou a tarde inteira com o pensamento naquele problema, que aos olhos dele era um problema. Brigou consigo mesmo e lutou com outros problemas que também desafiavam seus neurônios.

Caminhava por uma calçada do centro da cidade, com uma das mãos no bolso e a outra tirando o suor do rosto constantemente. Estava apressado para chegar até sua condução, que ele mesmo havia estacionado a alguns quarteirões dali.

Acabara de sair de uma entrevista de emprego, a última de muitas outras que já havia feito naquele dia. Olhava o relógio constantemente e apertava o passo para não perder o horário. Ele estava a mais ou menos 2 horas de sua casa; logo iria escurecer, e ele sabia o que poderia encontrar.

Aquela rotina era frequente, das segundas às quartas-feiras. Desempregado há cerca de 14 meses, ele se apertava entre bicos e trabalhos noturnos que repugnava. Não gostava de trabalhar no ramo da cobrança, pois arranjava alguns inimigos nessa área. Estava realizando aquele trabalho há aproximadamente um mês, e seu receio era evidente ao andar sozinho após as 19:00hs. Só se sentia seguro em sua casa, mas também precisava chegar antes da esposa, pois não sabia o que o esperava.

Ele estava a cerca de 80 km de sua casa, por isso olhava o relógio constantemente, preocupado. Chegando ao seu destino, um Santana azul escuro, quatro portas, com alguns arranhões na lataria, pneus carecas e o porta-malas amassado. Olhava aquele problema e absorvia mais um, entre tantos que já conturbavam sua cabeça. No mesmo instante, lembrava da cena que proporcionou tal estrago. “Um carro preto atravessou o sinal e veio em direção ao seu carro, onde sua mulher ocupava o assento do passageiro. Ele engatou a marcha à ré e não olhou pelo retrovisor, atingindo uma caçamba de alguma construtora que havia colocado ali de forma irregular. Dentro do carro preto, havia jovens bêbados que acabavam de sair de um bar, localizado em algum lugar daquele bairro”.

Ligou o veículo e saiu com pressa, olhando para os lados e certificando-se de que podia seguir. Sua mulher estaria em casa em aproximadamente uma hora, por volta das 01:00. Apertava o passo e seguia pela avenida movimentada e agitada. No rádio, tocavam seus MP3 favoritos, que haviam sido selecionados com muito cuidado por ele mesmo. Gostava de ouvir músicas dos anos 60, entre Beatles e Bob Dylan. Era a única forma de tentar relaxar após um dia cansativo. Pensava nas cobranças que precisava fazer nos finais de semana, onde via crimes sob um ângulo que poderia levá-lo à cadeia. Seu chefe sempre dizia: “No ramo da cobrança, existem dois fatores importantes: primeiro, nunca, em hipótese alguma, ache que o devedor não tem dinheiro; segundo, nunca saia sem receber”. Os pensamentos do novato-cobrador o preocupavam.

O relógio despertava e o homem apertava o volante do Santana, olhando para a imensa fila de carros à sua frente. O despertar do relógio significava que sua mulher estava a meia-hora de casa, e ele não daria tempo de chegar antes dela. Pegou o celular e ligou para ela, mas a mensagem de resposta foi imediata: “Você não tem crédito suficiente para realizar essa ligação”. Havia sido um dia corrido, e o dinheiro que poderia ter usado para colocar crédito no aparelho foi usado para beber um suco e comer um salgado no meio do dia. No rádio, tocava a música “Help!” dos Beatles, e ele desligou o aparelho, de forma grosseira e impaciente. Já não conseguia ouvir mais, devido à preocupação que atormentava sua cabeça.

Seu pavor era devido a um cliente que não ficou satisfeito com um de seus trabalhos. Uma testemunha tinha conseguido escapar do local da “cobrança”. Ela estava armada e chegou de surpresa; um dos cobradores que o acompanhava havia sido baleado, e ele agradecia a Deus por ter sido ele. Não suportaria a ideia de deixar sua esposa sozinha; morrer estava fora de cogitação.

Após passar todo o trânsito, ele chegou em seu bairro e engatou as marchas como se fosse um dos corredores de rali. Com muita pressa e preocupação, ele dobrou a esquina de sua residência e um carro escuro dobrou a outra. Ele arregalou os olhos, atravessou a rua em sentido contrário e estacionou o carro na calçada. Saiu do veículo e abriu o portão baixo de ferro, que bateu contra a grade. Caminhou até a porta e, com a mão, percebeu que ela estava aberta. Então passou a mão no rosto, com o olhar baixo e lacrimejando, gritou: – Amorrrr. Não obtendo resposta, ele então foi até a cozinha e viu a torneira ligada. Sobre a mesa, a bolsa da esposa estava do jeito que ela costumava deixar quando chegava em casa.

Ele então questionou seus feitos, tudo o que havia feito naquele último mês, e com as mãos sobre a mesa e a cabeça baixa, pediu perdão a Deus em silêncio. Olhou para cima e, com olhos raivosos, apertou a toalha que envolvia aquela mesa e, em seguida, questionou o Todo-Poderoso: – Por quê?

Nesse mesmo instante, seus ouvidos escutaram a voz que ele tanto admirava.

  • Amor, o que foi? Ele não podia entender, soltou a mão da toalha devagar e olhou para o lado. Nesse mesmo instante, sentiu o perfume de sua esposa, como se ela tivesse acabado de sair do banho. Sem entender muito bem, soltou a toalha e imediatamente foi abraçar sua mulher e pedir desculpas. Ela, sem entender muita coisa, perguntou o que aconteceu. O homem, pálido e com a boca aberta, respondeu gaguejando nas primeiras palavras:
  • Nada, nada, amor. Ele imediatamente pensou em algo para dizer, pois sua esposa nem sonhava que ele poderia sequer matar uma mosca.
  • Eu não aguento mais. Disse ele. – Já estou há mais de um ano procurando emprego e nem sequer uma gota de retorno. Eu não aguento mais, meu bem, esse trabalho como vigia noturno está me matando. Ela então o abraçou e pediu para que ele tenha paciência.

Ele abriu os olhos e pensou: o que havia acontecido, quem era que estava naquele carro, e por que ele estava virando a esquina daquele jeito?

0

2 anos ago Conto, Ficção • Tags: cobrador, conto, Ficção, história

5d94ab4ef0537c7b31deb42076934fe8

Injeção Letal

Em tempos de guerra, serei soldado
Em vidas passadas, fui idolatrado
Hoje, serei condenado,
Sem ao menos ser lembrado

Conseguiria de algum modo entender dores?
Interpretaria ângulos de amores?
Soldado serei para minha mente
Lembrando como algum indigente
Obviamente, um tipo de doente

Consolaria, ao falar sobre o seu dia
Mudaria opiniões se acaso conhecesse minha rotina
Talvez apenas mais um estranho na neblina

Eu que quase sempre fui ao cinema
Fantasiando momentos de plena riqueza
Lutei para conquistar minha nobreza

E se em tempos de guerra fui soldado
E em minhas vidas passadas, idolatrado
Não me identificaram, sou só mais um condenado

De certo modo, posso entender dores
E, de certos ângulos, até amores
Não fui alterado, nem mesmo no tempo de soldado
E hoje, de certa forma, procuro ser lembrado

Constantemente nobre e inconsequente, um amor inconsciente.

0

2 anos ago Poema • Tags: guerra, injeção letal, Poesia, soldado

a6751c3c-2f8b-11ed-a99c-040102d88a01

Tensões e Convicções

Prestem atenção no que eu vou lhes dizer! Vocês dois, ouviram!” – quando disse isso, estava com os olhos vidrados e possuídos pela certeza. Sentou-se um pouco mais calmo e novamente quis fazer seus amigos entenderem que as coisas fluíam de uma forma e, como sempre, ganhava uma discussão empunhando um ar de convicção que dificilmente seria detido.

Na sua cabeça, era tudo muito óbvio, certo e organizado; imaginava estar diante de um esplendoroso mar de satisfações. Então, quando lhes tiravam de lá, simplesmente refutava.

“Será que não veem o quanto estão sendo ridículos ao pensar dessa forma? Não enxergam as verdades que o mundo lhes mostra? Está bem claro para quem quiser ver, estou lhes dando a oportunidade de verem também, mas ao invés disso só retrucam asneiras e querem gritar mais alto apenas para proteger a si mesmos da dor que é perceber que não sabem do que estão falando.”

Após esse desfecho, nosso protagonista inclina-se sobre a cadeira enquanto leva um saboroso chopp até a garganta e cruza as pernas. Seus amigos pálidos e aflorados pela rigidez com que aquelas palavras tinham sido ditas. Um deles, naquela ocasião, estava com problemas pessoais e aquelas palavras entraram em sua alma como blasfêmia ou coisa do tipo e, em um surto de raiva contida, disse que o que acabava de afirmar não tinha sentido algum e que poderíamos seguir a noite naquele bar; que ao sol cruzar o horizonte, ele não estaria convencido de nada do que poderiam dizer, pois as palavras estariam saindo da boca de uma pessoa em situação pior do que ele, como alguém com menos vai entender do que estou falando, você pode tirar suas conclusões pela vida que cada um leva, enquanto uns trabalham e criam seus filhos, outros trabalham e vadiam, que é o caso do nosso chegado.

O protagonista, mesmo diante das reações de seus amigos, manteve sua postura firme, convicto de que estava certo em suas afirmações. Para ele, parecia óbvio que as verdades que via no mundo eram claras e evidentes, e ficava frustrado com a resistência dos outros em enxergar o que para ele era tão claro.

No entanto, um dos amigos, provavelmente passando por problemas pessoais, não conseguiu aceitar as palavras do protagonista. Sentindo-se atacado e menosprezado, ele reagiu com raiva, afirmando que as palavras ditas não faziam sentido e que seguiriam com a noite no bar. O amigo pareceu acreditar que as experiências e vivências de cada um moldam suas perspectivas e compreensões, e que o protagonista não poderia realmente entender sua situação.

Enquanto o protagonista cruzava as pernas e saboreava seu chopp, seus amigos ainda pareciam abalados pelas palavras proferidas com tanta convicção. A discussão evidenciou o contraste entre suas visões de mundo, com o protagonista defendendo sua postura assertiva e seus amigos sentindo-se atacados e incompreendidos.

Assim, o clima naquela mesa de bar refletia a complexidade das relações humanas, com diferentes perspectivas e visões de mundo colidindo e criando tensões. O protagonista continuou acreditando que estava certo, enquanto seus amigos seguiram com suas próprias convicções, cada um carregando consigo sua bagagem única de experiências e vivências.

Imagem do site: www.ruidepaula.com.br

0

2 anos ago Narrativa, Psicologico, Reflexão • Tags: amigos, bar, conversa, mesa de bar, tensões

Planos de Papel

Planos de Papel

Quando se acha necessário sair, ir embora, se jogar… a única pergunta que se pode fazer nesse momento seria: por que ir embora, qual o motivo?

Por que deixar para trás o que não se pode levar junto conosco!?

A vida corre, e junto dela tudo o que nasceu no mesmo momento que ela própria. Mas digo com certeza que quando ela se vai, leva-se muito mais bagagem do que se juntou durante seu percurso único e singular na linha da vida. Leva-se lembranças, visões únicas, momentos que proporcionamos para alguém, assim como momentos que nos foram remetidos, simples prazeres, simples olhares, agradáveis perfumes e constrangedores silêncios.

Não há negar o quanto é ruim e intangível o gosto do abandono. Por isso, digo que podemos permanecer, podemos prosseguir, mesmo depois da crença e da fé. Imagina ser possível ser intocável, ser preferência de um grupo de pensamentos.

Se jogar não pode ser de fato ter que sair de casa ou se separar daqueles que estão por perto e por enquanto. Se jogar é se libertar de tabus, crenças e modas passageiras; é o modo mais certo de você ser lembrado por quem você realmente é e ainda conseguir ser tolerado por quem realmente gosta de você.

Mantenha seus pensamentos e gostos à mostra, oponha-se, diga não para aqueles que querem te fazer pensar de um determinado modo, pois a sua diferença está no seu jeito particular.

Quando recordamos de pessoas, recordamos pelo fato delas serem particulares, exclusivas e, de alguma maneira, íntimas da gente; então que venha a saudade! Digo que vale a pena termos pessoas com pensamentos semelhantes aos nossos, lembrando sempre que essas pessoas fizeram de alguma forma uma diferença no nosso jeito de pensar, e não pense só em pessoas próximas, amigos íntimos ou colegas de mesas de bar. Lembre-se daqueles que estão presentes no seu dia-a-dia; na casa, na sua rua, no seu trabalho, na sua música preferida composta há anos atrás por alguém que às vezes você não sabe nem sequer o nome; nas leituras que você levou para sempre no seu propósito de vida, lidas em ônibus ou nas páginas de jornais e livros que você gosta e presta atenção, nos aprendizados que, de forma inconsciente, fazem parte desse contexto e já estão presentes na sua rotina.

Por isso, a importância de se manter antenado no que se passa em sua casa, na sua família, na sua ida ao trabalho e em tudo o que te rodeia, tudo o que você vê e ouve.

Por enquanto, os olhos ainda estão abertos, e consegue-se filtrar aquilo que queremos e gostamos.

Planos de papel; meras anotações, repetitivos recibos e extratos de controle capital. Não se preserva um espaço no meio do dia para escrever um pensamento de próprio punho, alegando que não tem tempo para fazer isso. Enquanto aqueles que escrevem e exibem seus rabiscos ainda correm o risco de não serem absorvidos.

Todos que deixam rastros por onde passam, deixam além de simples rastros, conceitos e ideias que outras pessoas podem absorver. Moda passageira, futilidades, interesses em terceiros não levam e não deixam informações de conteúdo, muito menos agradáveis memórias. Por isso, se jogue! Não passe apenas por passar! Busque seus gostos, livros que você nunca leu, músicas significativas e material mais rico em polêmica. Brigue pelo que acha certo, sendo maleável à ignorância alheia.

Não há negar que a partida é triste, ainda mais quando alguém que participa do nosso presente se vai sem antes se despedir. Contudo, podemos reaver seus íntimos se essa deixou algo que a tornasse perpétua dentro das nossas ideias. O simples fato de gravar um pensamento pode gerar a resposta da pergunta que interessa a alguém, sendo que esse alguém pode ficar eternamente grato por quem a respondeu.

Pessoas morreram jovens e ainda estão aqui, enquanto outros que são velhos nunca nem sequer ofereceram a chance de sabermos o que eles têm para oferecer.

0

2 anos ago Ensaio, Reflexão • Tags: Ensaio, reflexão

Sonhando Acordada

Sonhando Acordada

Ela encontrava-se deitada em sua cama e, por causa disso, refletia sobre o dia que acabara de terminar. Questionava-se sobre um fato ocorrido algumas horas antes, onde, por falta de dinheiro, acabou não conseguindo o que queria. Era algo que ela julgava importante, e por isso, tratava-o como um problema. Com as mãos sobre o peito e a cabeça sobre o travesseiro, refletia sobre possibilidades de ficar rica, algo que ela considerava importante. Pensava em contas atrasadas e sua preocupação afetava seu sono, resultando em olheiras de várias noites mal dormidas. Sonhava em viajar, fazer compras, conhecer pessoas e ser bem-sucedida na vida; considerava tudo isso essencial em sua ainda curta existência até o momento.

Apesar de não ser formada, trabalhava em um escritório de contabilidade há muitos anos, adquirindo conhecimento no ramo. Sempre disposta e pontual, não faltava um dia sequer ao trabalho. Detestava ter que comparecer a qualquer compromisso que não fosse o que já estava habituada a fazer. Não se consultava com médicos, não almoçava fora e não levava o carro para a revisão há algum tempo. Sua rotina era a mesma há anos, mas ainda apreciava a tarefa de levantar cedo, tomar seu café preto e dirigir até o trabalho, sempre pelo mesmo caminho, que ela já havia comprovado ser o mais econômico e rápido. Os “bons dias” eram sempre direcionados às mesmas pessoas: o radialista da estação que ouvia dentro do veículo, seus colegas de escritório e os clientes que chegavam ao estabelecimento durante a manhã.

O rádio-relógio iluminava o quarto de forma suave e aceitável, auxiliando-a a enxergar um pouco do chão e do seu guarda-roupa, com uma das portas abertas. Faltava coragem para levantar e fechar.

Já era tarde, e seu sono tinha decidido abandoná-la naquela noite. Revirava-se na cama, analisando várias maneiras de conseguir dinheiro extra, afinal, o tempo passava rápido e ela costumava dizer para si mesma: “o mundo gira, e não podemos nos dar ao luxo de ficar parados, esperando o tempo passar.” Essa frase ecoava em seus pensamentos, e ela se cobrava pelo tempo que gastava dormindo, sentindo que poderia estar fazendo algo para ganhar dinheiro. Raciocinava sobre essa filosofia pessoal e percebia que o estresse havia dominado seus dias. Sua autocobrança era evidente e preocupante. Esforçava-se para ser a melhor em tudo o que fazia: no trabalho, nos afazeres domésticos, no trânsito. Essa ânsia competitiva era um dos motivos pelos quais ela estava sozinha, acompanhada apenas pelo rádio-relógio, como em tantas outras noites. A solidão não a incomodava tanto quanto a ideia de não ter dinheiro. Ela julgava que o dinheiro proporcionaria coisas como companhia e felicidade, coisas que poderia obter a qualquer momento se tivesse a tão desejada riqueza. No entanto, admitia também uma certa falta de calor humano.

Finalmente, quando adormecia, sonhava com os pensamentos que a atormentavam, e, como num passe de mágica, ela se via cercada de pessoas com sorrisos forçados e bajuladoras, como se possuísse algo que chamasse a atenção de todos, algo que ela sabia exatamente o que era. Nesse momento, dentro de seu quarto, em um sono profundo, um sorriso genuíno e discreto se formava em seu rosto, acompanhado por um suspiro tranquilo. Ela estava verdadeiramente feliz naquele momento, de olhos fechados, dormindo e sonhando em seu quarto branco e frio, tendo apenas o rádio-relógio como testemunha.

Sem que ela soubesse, seus maiores desejos entravam em seus sonhos e permitiam que ela fosse feliz naquelas últimas horas da madrugada, antes de voltar à realidade, aos “bons-dias” e ao trajeto que fazia para o trabalho.

Entretanto, percebendo a ingenuidade desse pensamento, o rádio relógio fazia questão de despertá-la de forma brusca e estridente, tocando um bip familiar para seus ouvidos, tirando-a do mundo dos sonhos e trazendo-a de volta à realidade. Indisposta e com olheiras tão escuras que a maquiagem não conseguia esconder, ela simplesmente seguia sua rotina: desligava o despertador, trocava o baby-doll por suas roupas e caminhava até o banheiro, onde ligava o chuveiro e permitia-se despertar sob a água quente e reconfortante; escovava os dentes, vestia-se, tomava seu café preto, ligava o carro e mais uma vez seguia seu caminho para o trabalho, abraçando assim mais um dia. Afinal, como ela costumava dizer, “o mundo gira, e não podemos nos dar ao luxo de ficar parados, esperando o tempo passar”.

0

2 anos ago Narrativa • Tags: acordada, reflexão, Sonhando, texto

pensamento alheio

Pensamento Alheio

Meio a conflitos pessoais, problemas particulares e pensamentos rotineiros; ainda me sobra espaço para se pensar em problemas alheios.

Me pego remoendo problemas plurais a tantos, involuntariamente. Sou levado por algo que é atrativo e sensual. Presto atenção nas conversas em filas de banco e pessoas a falar no telefone. A curiosidade é tamanha que eu faço um certo esforço para saber o que acontece. Ler um jornal, ver uma notícia, checar e-mails e ainda perguntar para alguém no metrô qual time ganhou ontem e de quantos. Problemas alheios e comuns a tantos passam despercebidos pelo nosso dia, ocupam nossa cabeça e de repente a atenção se volta para aquele problema no meio do dia, enquanto se está tomando um café ou no banheiro apertado de um escritório qualquer.

Apegado a curiosidades. Estou me sentindo assim; sem um tempo para mim. Cuido tanto dos outros que não sobra espaço para se fazer o mesmo pela minha pessoa. Atolado de trabalho e contas inacabáveis que insistem em entrar no meu extrato bancário, eu realmente poderia fazer algo por mim, se revoltar realmente com problemas maiores que irão consertar meu rudimentar modo de pensar. Novelas, futebol, jornal e tragédias são o que temos para hoje; vizinhos ou até quem foi na igreja domingo são o que teremos para quase todo sempre. Poderíamos pensar em meios de dividir excessos e somar mínimos.

Meio a conflitos pessoais, problemas particulares e pensamentos rotineiros, ainda me sobra espaço para se pensar em (resolver) problemas alheios.

0

2 anos ago Ensaio, Reflexão • Tags: alheio, pensamento, problemas, reflexão

«‹ 2 3 4 5›
© Pensamentos do Vácuo 2025
Powered by WordPress • Themify WordPress Themes